E EIS QUE, TENDO DEUS DESCANSADO NO SÉTIMO DIA, OS POETAS CONTINUARAM A OBRA DO CRIADOR.
(MÁRIO QUINTANA)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

MENSAGEM DE ANO NOVO

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Comece por ligar o vídeo abaixo, e acompanhe o texto.

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra bebida,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça esse nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

Receita de Ano Novo


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

NATAL À BEIRA-RIO


NATAL À BEIRA-RIO

David Mourão-Ferreira

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.

Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...

Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.

Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

David Mourão-Ferreira,
Obra Poética 1948-1988


Nasceu em Lisboa em 1927 e faleceu na mesma cidade em 1996.
David Mourão-Ferreira foi poeta, dramaturgo, ficcionista, ensaísta, crítico literário e tradutor.
Formado em Filologia Românica, foi director do Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, director da Revista Colóquio/Letras e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Da sua vasta obra literária destaca-se, na poesia:
A Secreta Viagem (1950), Entre a Sombra e o Corpo (1980), Jogo de Espelhos (1993), Música de Cama (1994) e Obra Poética 1948-1988. David Mourão-Fereira traduziu, ainda, Imagens da Poesia Europeia (1972) e escreveu as letras de alguns fados cantadas por Amália Rodrigues.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

SERÁ AMOR?

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SERÁ AMOR?

Se tu visses o que eu vi
Assim que te conheci,
Não rias, como eu não ri
Pois logo compreendi
Que o que sentia por ti…
Era Amor!

O meu sossego acabou
O que era riso passou
Choro no rosto brilhou
Minh’alegria findou
E o que ficou…
Era Amor!

Porqu’é qu’isto aconteceu?
Quem o sabe não sou eu
Talvez em noite de breu
Eu veja o que sucedeu.
Esta “coisa” que me deu…
Era Amor!

Não pensava em namorar
Gostava até de brincar
Com coisas belas sonhar
Tudo, menos te beijar.
O que me estava a atacar…
Era Amor!

Mas teus beijos são gostosos,
Trazem mel. Tão saborosos
Que não há no mundo igual.
Ai, o Amor!

O que fazer, santo Deus?
Não quero nos lábios meus
Semelhante vendaval
Ai. O Amor!

Não sei o que pretendias
Quando beijos me pedias…
Disto lembrar, quem suporta?
Ai, o Amor!

Querias que eu abrisse a porta,
p’ra ocupar meu coração,
Mas a isso eu digo NÃO!

Será Amor?

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Maispa
Luz

Lisboa, Agosto de 2008

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A CONCHA-MENINA


A CONCHA-MENINA

Lá, onde o sol nasce no mar
Há uma cabana junto à praia
Que, dizem, foi habitada,
Por um génio
Que a deixou encantada.

Dizem ainda
Que nas noites de luar,
De uma concha que se abre,
Linda menina aparece
Logo se pondo a cantar.

Marinheiro que se preze,
Em noite de lua cheia
À praia vem espreitar
E escuta em doce enlevo
Da menina seu cantar.

E quando o dia amanhece
A concha volta a fechar
Mantendo dentro a menina
Que já não pode cantar
Até que surja o luar.

Maispa
Luz

Setembro 2009