E EIS QUE, TENDO DEUS DESCANSADO NO SÉTIMO DIA, OS POETAS CONTINUARAM A OBRA DO CRIADOR.
(MÁRIO QUINTANA)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O MOSTRENGO

Permitam-me que dedique esta postagem ao Amigo Vitor Chuva, satisfazendo a sua preferência, expressa no comentário ao meu post “A Senhora Duquesa de Brabante”:

“Por razões óbvias, o meu poema favorito é o "mostrengo", que é uma outra forma de descrever uma época dourada da nossa história.”


O Mostrengo
Óleo sobre tela por Carlos Alberto Santos





Ligue o som, e acompanhe o saudoso João Villaret, declamando este belo poema de Fernando Pessoa.


O MOSTRENGO

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,

E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:

«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,

Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»

E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,

E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme

E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

MARIAZITA, UM POEMA DE DANIEL

O meu prezado amigo Daniel Cordeiro teve a gentileza de compor, para mim, um lindo poema.
Como prova de gratidão partilho-o convosco, demonstrando, assim, a grande admiração que o Daniel me merece, tanto como pessoa lutadora e valorosa que é, como poeta inspirado, autor de tantos e tão bonitos poemas.
Obrigada, Daniel!



MARIAZITA

Mulher de segurança
Seguro pêndulo
Inspira confiança
Sempre serena e activa
Ou não fosse do ciclo balança
Vive nos arredores de Lisboa
Deambulará pela capital
Quem a não viu, não viu coisa boa
Esse atributo não lhe falta
É de crer que esteve na Madragoa
A beleza do atributo
Não cairia na lama
Também andaria nos becos
Nos becos da velha Alfama
Ali pelas vielas estreitinhas
Por onde andou a moirama
Por isso a elegante
A mulher de cultura
Séria e interessante
A um tempo séria e divertida
Mulher atraente
Respira amor à vida
Mariazita mulher deste tempo
Mostra-se desinibida
Mostra o seu talento
Mulheres de mente forte
Sempre serão alento
Oh Mariazita
Aprender contigo tento

Daniel Costa

Poema de Daniel Costa publicado no blog “POEMA DE UM HOMEM SÓ”, em 26/09/10