E EIS QUE, TENDO DEUS DESCANSADO NO SÉTIMO DIA, OS POETAS CONTINUARAM A OBRA DO CRIADOR.
(MÁRIO QUINTANA)

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

MENSAGEM DE NATAL

Gostaria de ter postado aqui, em devido tempo, uma mensagem de Natal. Tal não foi possível, por motivos alheios à minha vontade.
Hoje, dia 25, espero ainda ir a tempo de vos convidar a ver este lindo poema, que recebi por email, sem indicação de autoria.
Espero que gostem.


A Melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida.


Que neste Natal,
eu possa lembrar dos que vivem em guerra,
e fazer por eles uma prece de paz.

Que eu possa lembrar dos que odeiam,
e fazer por eles uma prece de amor.

Que eu possa perdoar a todos que me magoaram,
e fazer por eles uma prece de perdão.

Que eu lembre dos desesperados,
e faça por eles uma prece de esperança.

Que eu esqueça as tristezas do ano que termina,
e faça uma prece de alegria.

Que eu possa acreditar que o mundo ainda pode ser melhor,
e faça por ele uma prece de fé.

Obrigada Senhor
Por ter alimento,
quando tantos passam o ano com fome.

Por ter saúde,
quando tantos sofrem neste momento.

Por ter um lar,
quando tantos dormem nas ruas.

Por ser feliz,
quando tantos choram na solidão.

Por ter amor,
quantos tantos vivem no ódio.

Pela minha paz,
quando tantos vivem o horror da guerra.

Quero agradecer a todos vocês o carinho com que me receberam e o apoio que me têm prestado.
Sem eles eu teria que desistir. Assim, sinto-me com força para ir continuando, sempre que possível, sem esquecer também o apoio das minhas colaboradoras.
A todos um grande beijinho de gratidão
Líria

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

JOSÉ RÉGIO







Iniciamos o ciclo José Régio com a sua coroa de glória

CÂNTICO NEGRO

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces

Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

AMAR


AMAR

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar:
Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro
e toda a gente

Amar! Amar!
E não amar ninguém!
Recordar?
Esquecer?
Indiferente!...
Prender ou desprender?
É mal?
É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
durante a vida inteira
é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada,
que seja a minha noite uma alvorada.
Que me saiba perder...

pra me encontrar!...


Florbela Espanca

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO

Descalça caminho no campo verdejante
Enquanto cantam aves e os rouxinóis
Nua, coberta com um véu esvoaçante
Acenando para mim sorriem os girassóis

Esfuziante solto pipa colorida ao léu…
Em contraste com o azul anil e o branco
Contemplo a beleza na imensidão do céu
Na relva o frescor dos lírios do campo

Esbaforida brinco com a cabeleira do mato
Esse amor lírico que em ti eu almejo…
Alguns lírios enfeitam o córrego e o lago

No reflexo da água imagem tua eu beijo
Influxo de um delírio senta ao meu lado
Divago novamente entre o sonho e o desejo.

Olhai os Lírios do Campo
Autora: Lu Lena

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

HISTÓRIA ANTIGA


HISTÓRIA ANTIGA

Miguel Torga

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
uma cara de burro sem cabresto
e duas grandes tranças.

A gente olhava, reparava, e via
que naquela figura não havia
olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
o malvado,
só por ter o poder de quem é rei,
por não ter coração,
sem mais nem menos
mandou matar quantos eram pequenos
nas cidades e aldeias da nação.

Mas
por acaso ou milagre, aconteceu
que, num burrinho, pela areia fora,
fugiu
daquelas mãos de sangue um pequenito
que o vivo sol da vida acarinhou:
E bastou
esse palmo de sonho
para encher este mundo de alegria;
para crescer, ser Deus,
e meter no inferno o tal das tranças,
só porque ele não gostava de crianças.