E EIS QUE, TENDO DEUS DESCANSADO NO SÉTIMO DIA, OS POETAS CONTINUARAM A OBRA DO CRIADOR.
(MÁRIO QUINTANA)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

TERNURA

Há anos atrás, era eu uma jovenzinha, li, não sei onde, um poema de que gostei tanto que o decorei e não mais o esqueci. Mas desconhecia quem o tinha escrito.
Há dias, não sei porquê, esse poema veio-me à ideia. Resolvi investigar na Net e descobri o seu autor: Reinaldo Ferreira.
Partilho convosco este poema de que gosto imenso.


SEI QUE A TERNURA


Sei que a ternura
Não é coisa que se peça
E dar-se, não significa
Que alguém a queira ou mereça

Estas verdades
Que são do senso comum
Não me dão conformação
Nem sentimento nenhum
De haver força e dignidade
Na minha sabedoria

Eu preferia
Sinceramente preferia
Que, contra as leis recolhidas
No que ficou
Dos destroços de outras vidas,
Tu me desses
A ternura que te peço
Ou que, por fim,
Reparasses que a mereço.

Reinaldo Ferreira

(1922 – 1959)

Reinaldo Ferreira nasceu em Barcelona em 20 de Março de 1922 e faleceu em Moçambique em Junho de 1959.
Teve uma vida breve e pouco bafejada pela sorte. Iniciou os estudos secundários em Espanha, tendo-os concluído já em Moçambique, onde se fixou. Colaborou em algumas publicações da antiga Lourenço Marques (actual Maputo).
A sua poesia só ficou conhecida aquando da publicação póstuma dos seus “Poemas”, em 1960.
(Poemas, Imprensa Nacional de Moçambique, Lourenço Marques, 1960)
Em 1966 uma segunda edição teve prefácio de José Régio que, tal como Vitorino Nemésio, lhe teceu grandes elogios.
O seu legado como poeta é muito reduzido, não só porque a sua vida foi muito curta mas também porque o seu verdadeiro interesse era o teatro. Muito seria de esperar neste capítulo, mas para tanto lhe foi pouca a vida.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

CANTIGA DOS AIS

CONFIRME SE TEM O SOM LIGADO

Os ais de todos os dias
Os ais de todas as noites
Ais do fado e do folclore
O ai de ó ai ó linda
Os ais que vêm do peito
Ai pobre dele coitado
Que tão cedo se finou
Os ais que vêm da alma
Ais d'amor e de comédia
Ai pobre da rapariga
Que se deixou enganar
Ai a dor daquela mãe
Os ais que vêm do sexo
Os ais do prazer na cama
Os ais da pobre senhora
Agarrada ao travesseiro
Ai que saudades saudades
Os ais tão cheios de luto
Da viúva inconsolável
Ai pobre daquele velhinho
Ai que saudades menina
Ai a velhice é tão triste
Os ais do rico e do pobre
Ai o espinho da rosa
Os ais do António Nobre
Ais do peito e da poesia
Os ais doutras coisas mais
Ai a dor que tenho aqui
Ai o gajo também é
Ai a vida que tu levas
Ai tu não faças asneiras
Ai mulher, és o demónio
Ai que terrível tragédia
Ai a culpa é do António
Ai os ais de tanta gente
Ai que já é dia oito
Ai o que vai ser de nós
E os ais dos liriquistas
A chorar compreensão
Ai que vontade de rir
E os ais do D. Dinis
Ai Deus e u é
Triste de quem der um ai
Sem achar eco em ninguém
Os ais da vida e da morte
Ai os ais deste país!

Mendes de Carvalho

Armindo Mendes de Carvalho, nascido em Alcaíde, Beira Baixa, em 1927, e falecido em 1988, dividiu a sua obra literário entre a poesia, o teatro e a ficção.
Segundo David Mourão Ferreira, Mendes de Carvalho possuía um humor corrosivo que visava especialmente as instituições e determinados grupos sociais.
Do seu legado destacam-se obras como “Camaleões e Altifalantes” – 1963; “Cantigas de Amor e Maldizer” – 1966; Poemas de Ponta e Mola – 1975, entre muitas outras.


Mário Viegas (António Mário Lopes Pereira Viegas) nascido em Santarém a 10 de Novembro de 1948 e falecido em Lisboa a 1 de Abril de 1996, foi um actor e encenador português.
Foi reconhecido como um dos melhores actores da sua geração, chegando mesmo a receber um prémio como “Melhor actor”, em 1987.
Fundou três companhias de teatro; foi actor regular no cinema, tendo participado em mais de quinze filmes.
Fez também televisão, destacando-se em duas séries de programas sobre poesia.
Destacou-se, ainda, como declamador. Em minha opinião nesta sua faceta apenas foi suplantado pelo incomparável João Villaret, que considero o maior declamador de todos os tempos.

Mário Viegas
10.11.1948 – 01.04.1996