E EIS QUE, TENDO DEUS DESCANSADO NO SÉTIMO DIA, OS POETAS CONTINUARAM A OBRA DO CRIADOR.
(MÁRIO QUINTANA)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A UM LIVRO

(Foto minha – Alentejo – Alqueva)


A UM LIVRO

Florbela Espanca

No silêncio de cinzas do meu Ser

Agita-se uma sombra de cipreste,

Sombra roubada ao livro que ando a ler,

A esse livro de mágoas que me deste.

Estranho livro aquele que escreveste,
Artista da saudade e do sofrer!
Estranho livro aquele em que puseste

Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!


Leio-o, e folheio, assim, toda a minh’alma!

O livro que me deste é meu, e salma
As orações que choro e rio e canto! ...

Poeta igual a mim, ai quem me dera

Dizer o que tu dizes! ... Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto! ...


Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"


Florbela Espanca

8 de Dezembro de 1894.
Dezembro de 1930