(MÁRIO QUINTANA)
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
MUDANÇA DE CASA
Minhas amigas e meus amigos,
Este blog, «Olhai os Lírios do Macuá», vai mudar-se para A CASA DA MARIQUINHAS ,
onde serão publicados os posts (de poesia) respeitantes ao «LÍRIOS», a partir do próximo dia 02/12/2010, quinta-feira.
Espero lá as vossas visitas, que antecipadamente agradeço.
E, se quiserem fazer-se seguidores de lá… dar-me-ão um grande prazer, na medida em que este blog vai encerrar as suas portas por tempo indeterminado.
Muito obrigada pela vossa compreensão.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
A UM LIVRO
A UM LIVRO
Florbela Espanca
No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de mágoas que me deste.
Estranho livro aquele que escreveste,
Artista da saudade e do sofrer!
Estranho livro aquele em que puseste
Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!
Leio-o, e folheio, assim, toda a minh’alma!
O livro que me deste é meu, e salma
As orações que choro e rio e canto! ...
Poeta igual a mim, ai quem me dera
Dizer o que tu dizes! ... Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto! ...
Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"
Florbela Espanca

Dezembro de 1930
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
O MOSTRENGO
“Por razões óbvias, o meu poema favorito é o "mostrengo", que é uma outra forma de descrever uma época dourada da nossa história.”

Ligue o som, e acompanhe o saudoso João Villaret, declamando este belo poema de Fernando Pessoa.
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
MARIAZITA, UM POEMA DE DANIEL
Como prova de gratidão partilho-o convosco, demonstrando, assim, a grande admiração que o Daniel me merece, tanto como pessoa lutadora e valorosa que é, como poeta inspirado, autor de tantos e tão bonitos poemas.
Obrigada, Daniel!

MARIAZITA
Mulher de segurança
Seguro pêndulo
Inspira confiança
Sempre serena e activa
Ou não fosse do ciclo balança
Vive nos arredores de Lisboa
Deambulará pela capital
Quem a não viu, não viu coisa boa
Esse atributo não lhe falta
É de crer que esteve na Madragoa
A beleza do atributo
Não cairia na lama
Também andaria nos becos
Nos becos da velha Alfama
Ali pelas vielas estreitinhas
Por onde andou a moirama
Por isso a elegante
A mulher de cultura
Séria e interessante
A um tempo séria e divertida
Mulher atraente
Respira amor à vida
Mariazita mulher deste tempo
Mostra-se desinibida
Mostra o seu talento
Mulheres de mente forte
Sempre serão alento
Oh Mariazita
Aprender contigo tento
Daniel Costa
Poema de Daniel Costa publicado no blog “POEMA DE UM HOMEM SÓ”, em 26/09/10
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
REENCONTRO

De repente surgiu o desejo,
de fazer-te um poema.
Dizer-te, por palavras,
Neste nosso reencontro,
O que um simples olhar
Não teria força para expressar.
Quisera, haver em mim, beleza
Para te dar.
Mas a imagem, pelo espelho reflectida,
Mostra que o tempo passou
E não parou.
E como passou!
Para este nosso reencontro
Insinuaste um sinal,
Temendo estragos que o tempo tenha feito.
“Talvez de flor ao peito”…
Gracejaste, recordando tempos idos,
em que fingíamos ser desconhecidos.
Havia ironia na tua voz,
Brincavas.
Ironia maior a do destino,
Que nas marcas deixadas pelo tempo,
Não deixou espaço para o esquecimento.
Mariazita

quarta-feira, 8 de setembro de 2010
REGRESSO AO LAR
Fui à Net e consegui encontrá-lo na íntegra.
Espero que vos agrade tanto quanto a mim.
Ai, há quantos anos que eu parti chorando
Deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?... há trinta?... Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
Canta-me cantigas para me eu lembrar!...
Dei a volta ao mundo, dei a volta á Vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh! ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida,
Canta-me cantigas de me adormentar!...
Trago d'amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama, que me deste o peito,
Canta-me cantigas para me embalar!...
Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
Pedrarias d'astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!...
Como antigamente, no regaço amado,
(Venho morto, morto!...) deixa-me deitar!
Ai, o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...
Canta-me cantigas, manso, muito manso...
Tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
Que a minh'alma durma, tenha paz, descanso,
Quando a Morte, em breve, m'a vier buscar!...
Guerra Junqueiro , 1890

Poeta panfletário, a sua poesia ajudou criar o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República.
Deixou-nos obras de grande vulto, das quais me permito destacar “A Velhice do Padre Eterno”, de que gosto imenso, e que inclui o conhecido poemeto “O Melro”:
“O Melro, eu conheci-o: Era negro, vibrante, luzidio, madrugador, jovial; começava a soltar, d’entre o arvoredo verdadeiras risadas de cristal. E assim que o padre-cura abria a porta que dá para o passal, repicando umas finas ironias, o melro, d’entre a horta dizia-lhe: “bons dias!” E o velho padre-cura não gostava daquelas cortesias.” - Uma verdadeira delícia!
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
TERNURA

Há dias, não sei porquê, esse poema veio-me à ideia. Resolvi investigar na Net e descobri o seu autor: Reinaldo Ferreira.
Partilho convosco este poema de que gosto imenso.
Sei que a ternura
Não é coisa que se peça
E dar-se, não significa
Que alguém a queira ou mereça
Estas verdades
Que são do senso comum
Não me dão conformação
Nem sentimento nenhum
De haver força e dignidade
Na minha sabedoria
Eu preferia
Sinceramente preferia
Que, contra as leis recolhidas
No que ficou
Dos destroços de outras vidas,
Tu me desses
A ternura que te peço
Ou que, por fim,
Reparasses que a mereço.
Reinaldo Ferreira

Teve uma vida breve e pouco bafejada pela sorte. Iniciou os estudos secundários em Espanha, tendo-os concluído já em Moçambique, onde se fixou. Colaborou em algumas publicações da antiga Lourenço Marques (actual Maputo).
A sua poesia só ficou conhecida aquando da publicação póstuma dos seus “Poemas”, em 1960.
(Poemas, Imprensa Nacional de Moçambique, Lourenço Marques, 1960)
Em 1966 uma segunda edição teve prefácio de José Régio que, tal como Vitorino Nemésio, lhe teceu grandes elogios.
O seu legado como poeta é muito reduzido, não só porque a sua vida foi muito curta mas também porque o seu verdadeiro interesse era o teatro. Muito seria de esperar neste capítulo, mas para tanto lhe foi pouca a vida.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
CANTIGA DOS AIS

Os ais de todos os dias
Os ais de todas as noites
Ais do fado e do folclore
O ai de ó ai ó linda
Os ais que vêm do peito
Ai pobre dele coitado
Que tão cedo se finou
Os ais que vêm da alma
Ais d'amor e de comédia
Ai pobre da rapariga
Que se deixou enganar
Ai a dor daquela mãe
Os ais que vêm do sexo
Os ais do prazer na cama
Os ais da pobre senhora
Agarrada ao travesseiro
Ai que saudades saudades
Os ais tão cheios de luto
Da viúva inconsolável
Ai pobre daquele velhinho
Ai que saudades menina
Ai a velhice é tão triste
Os ais do rico e do pobre
Ai o espinho da rosa
Os ais do António Nobre
Ais do peito e da poesia
Os ais doutras coisas mais
Ai a dor que tenho aqui
Ai o gajo também é
Ai a vida que tu levas
Ai tu não faças asneiras
Ai mulher, és o demónio
Ai que terrível tragédia
Ai a culpa é do António
Ai os ais de tanta gente
Ai que já é dia oito
Ai o que vai ser de nós
E os ais dos liriquistas
A chorar compreensão
Ai que vontade de rir
E os ais do D. Dinis
Ai Deus e u é
Triste de quem der um ai
Sem achar eco em ninguém
Os ais da vida e da morte
Ai os ais deste país!
Mendes de Carvalho
Segundo David Mourão Ferreira, Mendes de Carvalho possuía um humor corrosivo que visava especialmente as instituições e determinados grupos sociais.
Do seu legado destacam-se obras como “Camaleões e Altifalantes” – 1963; “Cantigas de Amor e Maldizer” – 1966; Poemas de Ponta e Mola – 1975, entre muitas outras.
Mário Viegas (António Mário Lopes Pereira Viegas) nascido em Santarém a 10 de Novembro de 1948 e falecido em Lisboa a 1 de Abril de 1996, foi um actor e encenador português.
Foi reconhecido como um dos melhores actores da sua geração, chegando mesmo a receber um prémio como “Melhor actor”, em 1987.
Fundou três companhias de teatro; foi actor regular no cinema, tendo participado em mais de quinze filmes.
Fez também televisão, destacando-se em duas séries de programas sobre poesia.
Destacou-se, ainda, como declamador. Em minha opinião nesta sua faceta apenas foi suplantado pelo incomparável João Villaret, que considero o maior declamador de todos os tempos.

Mário Viegas
10.11.1948 – 01.04.1996
quarta-feira, 30 de junho de 2010
FELICIDADE ?
AVE SEM ASAS
feita no comentário ao post anterior partilho convosco mais um poema de Maispa (a Ana é uma poetisa que muito admiro e a quem homenageio com esta postagem)
Não estava habituada a tê-la aqui.
De tal modo que, a princípio,
Nem a reconheci…
Veio sorrateira
Um largo sorriso no rosto
Uma auréola de luz a envolvê-la.
Pé ante pé aproximou-se,
Abraçou-me com doçura,
E murmurou-me ao ouvido:
- Cheguei!
Olhei-a nos olhos.
Mas quem és tu? – perguntei.
Eu sou a felicidade – respondeu-me.
Não te lembras de mim?
- Não! Nunca te vi…
Mariazita
quarta-feira, 16 de junho de 2010
SE ME QUERES NAMORAR
Se queres namorar comigo
Tens que dizer que me amas
Vem ter comigo ao postigo
Cuidado com as más famas
É que nos becos da rua
Eu não quero namorar
Porque o olhar da lua
Passa a vida a espreitar.
Linguareira como ela
Não conheço outra igual
E quando a noite é mais bela
A lua tem ar real.
Que protege os namorados
Dizem alguns. Mas que tolos
Só mesmo os enamorados
P’ra imaginarem tais dolos
A noite está p’ra acabar
E tu não mais apareces
Vou-me embora, vou deitar
De mim não contes com preces.
Vou rezar ao Pai do Céu
Por coisa que valha a pena
Contigo deu o que deu…
Lá se foi a noite amena.
Adeus amigo do peito
Um dia te encontrarei
E se tiveres outro jeito
No teu caso eu pensarei.
Mariazita

terça-feira, 1 de junho de 2010
DIA DA CRIANÇA
Humberto Rodrigues Neto
Criança, doce e meiga criatura,
a exibir-nos um riso encantador,
vejo em teu rosto a exata miniatura
da face angélica do Criador!
Nem imaginas o quão espinhosa
é a missão que o Senhor a ti confia,
cada criatura tornar mais bondosa
e a vida do planeta mais sadia.
Varrer do clima os ares pestilentos,
aos rios legar toda pureza d'antes,
nos descampados replantar rebentos
em restos de floresta agonizantes!
Gerir o Estado com honestidade,
co'a violência não ter contemplação,
às drogas dar combate sem piedade,
banindo o tráfico com férrea mão!
Afronta, pois, criança, essa missão
que o Senhor do Universo te outorgou,
e que possa alcançar tua geração
tudo aquilo em que a nossa fracassou!
quarta-feira, 19 de maio de 2010
A SENHORA DE BRABANTE
A senhora duquesa de Brabante Musicians Available
(LIGUE O SOM ACIMA E ACOMPANHE A SUA LEITURA DO POEMA COM A VOZ DE JOÃO VILLARET)
A SENHORA DE BRABANTE
Gomes Leal
Tem um leque de plumas gloriosas
Na sua mão macia e cintilante
De anéis de pedras finas, preciosa,
A senhora duquesa de Brabante.
Numa cadeira de espaldar doirado
Escuta os galanteios dos barões.
É noite. E sob o azul morno e calado
Concebem os jasmins e os corações.
Recorda o senhor bispo acções passadas,
Falam damas de jóias e cetins
Tratam barões de festas e caçadas
À moda goda, aos toques de clarins.
Mas a duquesa é triste.
Oculta mágoa Vela seu rosto de um solene véu.
Ao luar, sob os tanques, chora a água.
Cantando, rouxinóis, Lembram o céu.
Dizem as lendas que satã,
Vestido de uma armadura Feita de um brilhante,
Ousou falar do seu amor florido
À senhora duquesa de Brabante.
Dizem que o viram ao luar, nas águas,
Mais loiro do que o sol, marmóreo e lindo,
Tirar duma viola estranhas mágoas,
Pela noite em que os cravos vem abrindo
Dizem mais !
Que na seda das varetas
Do seu leque ducal de mil matizes,
Satã cantara as suas tranças pretas
E os seus olhos mais fundos que raízes.
Mas a duquesa é triste!
Oculta mágoa
Vela seu rosto de um solene véu.
Ao luar, sob os tanques, chora a água.
Cantando, rouxinóis,
Lembram o céu.
O que é certo é que a pálida senhora,
A transcendente dama de Brabante,
Tem um filho horroroso!
E de quem cora o pai, no escuro,
Passeando errante.
É um filho horroroso e jamais visto,
Raquítico, disforme, excepcional.
Todo disforme, excêntrico, malquisto,
Pêlos de fera e uivos de animal.
Parece irmão dos cerdos e dos ursos,
Aborto e horror da brava natureza!
Em vão tentam barões, com mil discursos,
Desenrugar a fronte da duquesa…
Sempre a duquesa é triste!
Oculta mágoa vela seu rosto
De um solene véu.
Ao luar, sob os tanques,
Chora a água.
Cantando, rouxinóis lembram o céu.
Ora o monstro morreu!
Pelas arcadas do palácio
Retinem festas, hinos,
Riem nobres vilões pelas estradas.
O próprio pai se ri, ouvindo os sinos.
Riem vilões trigueiros das charruas,
Riem-se monges pelo claustro antigo,
Riem-se nobres e peões nas ruas
Riem-se padres junto ao seu jazigo
Passeiam velhas damas no terraço,
Nos pátios os truões riem, também.
Passeia o duque, rindo, pelos paços,
Só chora o filho, em alto choro, a mãe.
Só! Sobre o esquife do disforme morto
Chora, sem trégua, a mísera mulher.
Chama os nomes mais ternos ao aborto.
Mesmo assim feio, a triste mãe o quer.
Só ela chora pelo morto.
A mágoa lhe arranca gritos
Que ninguém mais deu!
Ao luar, sob os tanques,
Chora a água.
Cantando, rouxinóis, lembram o céu!
Gomes Leal

06.06.1848 – 29.01.1921
(António Duarte)Gomes Leal nasceu em Lisboa, foi um poeta e crítico literário português.
Filho natural de João António Gomes Leal, funcionário da Alfândega, e de Henriqueta Fernandina Monteiro Alves Cabral Leal, frequentou o Curso Superior de Letras, mas não o concluiu, empregando-se como escrevente de um notário de Lisboa.
Foi um dos fundadores do jornal "O Espectro de Juvenal" (1872) e do jornal "O Século" (1881), tendo colaborado também na Gazeta de Portugual, Revolução de Setembro e Diário de notícias. A sua obra insere-se nas correntes ultra-romântica, parnasiana, simbolista e decadentista.
sábado, 8 de maio de 2010
DIA DAS MÃES NO BRASIL

Humberto Rodrigues Neto
Tu foste, mãe, na treva a claridade,
na dor meu riso e na tormenta o norte,
a doce companheira e a consorte
das minhas horas de infelicidade!
Que anjo não foste, toda vez que a sorte
não me sorriu! E com que imensidade
de amor, desvelo e angelical bondade
tu me ensinaste a ser paciente e forte!
E hoje a alegria anda a sorrir nos ares...
é o “Dia das Mães” numa porção de lares
e eu vou fingindo que inda o comemoro!
Mas teu espírito, a me amar afeito,
vem doer tão docemente no meu peito,
que eu cerro os olhos... pendo a fronte... e choro!
.....00O00.....
Humberto-Poeta

Com ele vai todo o meu carinho.

sexta-feira, 30 de abril de 2010
DIA DA MÃE

Escrevem-se bonitos textos, compõem-se maravilhosos poemas, todos os filhos querendo presentear a “sua” Mãe da melhor forma possível.
Oferecem-lhe uns versos, uma flor, um qualquer presente.
A Mãe é rainha nesse dia que lhe é dedicado.
Contudo, há Mães que não sabem o que é receber um presente dos seus filhos, simplesmente porque eles ignoram que esse dia existe.
A essas heroínas anónimas, essas “Mães Especiais” dedico estas singelas palavras, e para elas elevo, neste momento, o meu pensamento solidário.
É esse mesmo pensamento que me leva a partilhar convosco este “tristemente belo” poema do meu amigo Humberto-Poeta.
domingo, 25 de abril de 2010
25 DE ABRIL – DIA DA LIBERDADE
Era de noite e levaram
Era de noite e levaram
Quem nesta cama dormia
Nela dormia, nela dormia
Sua boca amordaçaram
Sua boca amordaçaram
Com panos de seda fria
De seda fria, de seda fria
Era de noite e roubaram
Era de noite e roubaram
O que na casa havia
na casa havia, na casa havia
Só corpos negros ficaram
Só corpos negros ficaram
Dentro da casa vazia
casa vazia, casa vazia
Rosa branca, rosa fria
Rosa branca, rosa fria
Na boca da madrugada
Da madrugada, da madrugada
Hei-de plantar-te um dia
Hei-de plantar-te um dia
Sobre o meu peito queimada
Na madrugada, na madrugada
Luís Pignatelli e Zeca Afonso
Luís Pignatelli (pseudónimo literário de Luís Oliveira de Andrade) nasceu em Espinho a 1 de Janeiro de 1935 e morreu em Lisboa a 20 de Dezembro de 1993.
José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, mais conhecido por José Afonso ou Zeca Afonso, nasceu em Aveiro a 2 de Agosto de 1929 e faleceu em Setúbal a 23 de Fecereiro de 1987
quarta-feira, 21 de abril de 2010
CICLO DE POESIA ERÓTICO/SATÍRICA (V)

(Poema satírico)
Luis Vaz de Camões
Os bons vi sempre passar
no mundo graves tormentos;
e, para mais me espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau; mas fui castigado.
Assim que só para mim
Anda o mundo consertado.

Faleceu em 10 de Junho de 1580
quinta-feira, 8 de abril de 2010
CICLO DE POESIA ERÓTICO/SATÍRICA (IV)
(Poema erótico)
Deixa que eu beije tuas orelhas, teus cabelos,
a fronte, os olhos, as tuas mãos e os antebraços;
quero o teu ventre e os teus quadris em beijos tê-los,
e em beijos ter as tuas pernas e os teus braços!
Do dorso às nalgas, do pescoço aos cotovelos,
do ombro aos seios, que não restem leves traços
do que eu não beije... a boca, os pés e os tornozelos
deixa-me encher de beijos puros ou devassos!
Que em teus joelhos e em tuas coxas meus desejos
jamais encontrem empecilho em que os encubes,
e expostos fiquem dos meus lábios aos adejos!
Mas, pelos Deuses! Por Osíris! Por Anúbis!
deixa-me pôr o mais ardente dos meus beijos
no teu vestíbulo do céu, ao sul do púbis!

Humberto Poeta

Humberto-Poeta fala de si:
Meu nome: Humberto Rodrigues Neto - nick - Humberto – Poeta
Nasci em São Paulo, Brasil, a 11 de novembro de 1935
Escrevo desde 1948 - estilo de minha escrita: Parnasiano
Meus poetas preferidos; Olavo Bilac - Guilherme de Almeida - Cruz e Souza - Vicente de Carvalho - Florbela Espanca
quarta-feira, 24 de março de 2010
CICLO DE POESIA ERÓTICO/SATÍRICA (III)
E ficou com as mãos pousadas no teclado,
Esquecida, a cismar num mundo de riqueza:
Supunha-se num baile, um conde apaixonado
Segredava-lhe: «Adoro-a!… Eu mato-me, marquesa!…»
Ah! se fosse fidalga!… Ao menos baronesa…
Que baile! que esplendor na noite de noivado!…
Estremeceu, nervosa, achou-se na pobreza,
E o piano soltou um grito arrepiado.
Absorvida outra vez, prendeu-se-lhe o sentido
À mesma ideia – o luxo. Ia comprar cautelas…
E imaginou de novo o conde enfurecido…
Um palácio, um coupé, esplêndidos cavalos…
Nisto o marido entrou, de óculos e chinelas,
E miou com ternura: — «Anda aparar-me os calos».
Garcia Monteiro - Poeta do Séc. XIX
1859 - 1913

Manuel Garcia Monteiro (1859-1913) nasceu na cidade da Horta, ilha do Faial, Açores.
Devido a dificuldades económicas, parte para Lisboa arranjando um lugar como prefeito num colégio e estudando na Escola Politécnica. Por questões de saúde, vê-se obrigado a regressar aos Açores.
Em 1883 funda o jornal O Açoriano, dedicando-se inteiramente ao jornalismo. Nove meses depois, parte para os Estados Unidos da América a tentar a sorte.
Fixa-se em Boston, trabalhando como tipógrafo e continuando os estudos. Forma-se em Medicina, que exerce nos E.U.A., e colabora em várias publicações nacionais e estrangeiras.
Suas obras:
- Versos - 1894
- Rimas de Ironia Alegre - 1896
quarta-feira, 10 de março de 2010
CICLO DE POESIA ERÓTICO/SATÍRICA (II)
Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frémitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!
Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.
Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.
No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci....

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu em 16 de Dezembro de 1865 no Rio de Janeiro, onde faleceu em 28 de Dezembro de 1918.
Foi jornalista e poeta e membro fundador da Academia Brasileira de Letras.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
CICLO DE POESIA ERÓTICO/SATÍRICA (I)
Quando foi que demorei os olhos
sobre os seios nascendo debaixo das blusas,
das raparigas que vinham, à tarde, brincar comigo?...
... Como nasci poeta,
devia ter sido muito antes que as mães se apercebessem disso
e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.
Quando, não sei ao certo.
Mas a história dos peitos, debaixo das blusas,
foi um grande mistério.
Tão grande
que eu corria até ao cansaço.
E jogava pedradas a coisas impossíveis de tocar,
como sejam os pássaros quando passam voando.
E desafiava,
sem razão aparente,
rapazes muito mais velhos e fortes!
E uma vez,
de cima de um telhado,
joguei uma pedrada tão certeira,
que levou o chapéu do senhor administrador!
Em toda a vila,
se falou, logo, num caso de política;
o senhor administrador
mandou vir, da cidade, uma pistola,
que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;
e os do partido contrário,
deixaram crescer o musgo nos telhados
com medo daquela raiva de tiros para o céu...
Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!
Manuel da Fonseca
Membro do Partido Comunista Português (PCP), Manuel da Fonseca fez parte do grupo do Novo Cancioneiro e é considerado por muitos como um dos melhores escritores do neo-realismo português. Nas suas obras, carregadas de intervenção social e política, relata como poucos a vida dura do Alentejo e dos alentejanos.
Deixou vasta obra poética e romances de ficção.
Era presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores quando esta atribuiu o Grande Prémio da Novelística a José Luandino Vieira pela sua obra Luuanda, o que levou ao encerramento desta instituição.
Em sua homenagem, a escola secundária de Santiago do Cacém, chama-se "Escola Secundária Manuel da Fonseca".
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
CICLO DAS ÁRVORES (FINAL)

Florbela Espanca
Horas mortas... curvadas aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol pesponta
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
-Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca

Florbela Espanca nasceu no Alentejo, em Vila Viçosa, a 8 de Dezembro de 1894.
Faleceu em Matosinhos em Dezembro de 1930
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
CICLO DAS ÁRVORES (CONTINUAÇÃO)
Olavo Bilac
“Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas…
O homem, a fera, e o insecto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!”
Olavo Bilac

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu em 16 de Dezembro de 1865 no Rio de Janeiro, onde faleceu em 28 de Dezembro de 1918.
Foi jornalista e poeta e membro fundador da Academia Brasileira de Letras.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
CICLO DAS ÁRVORES
Vou dedicar-lhes três poemas, a que chamarei “Ciclo das Árvores”.
Os outros dois poemas serão publicados nas próximas semanas.

Luís Vaz de Camões
Árvore, cujo pomo, belo e brando,
natureza de leite e sangue pinta,
onde a pureza, de vergonha tinta,
está virgíneas faces imitando;
Nunca da ira e do vento, que arrancando
os troncos vão, o teu injúria sinta;
nem por malícia de arte seja extinta
a cor, que está teu fruto debuxando.
Que pois me emprestas doce e idóneo abrigo
a meu contentamento, e favoreces
com teu suave cheiro minha glória,
Se não te celebrar como mereces,
cantando-te, sequer farei contigo
doce, nos casos tristes, a memória.