A senhora duquesa de Brabante Musicians Available
(LIGUE O SOM ACIMA E ACOMPANHE A SUA LEITURA DO POEMA COM A VOZ DE JOÃO VILLARET)
A SENHORA DE BRABANTE
Gomes Leal
Tem um leque de plumas gloriosas
Na sua mão macia e cintilante
De anéis de pedras finas, preciosa,
A senhora duquesa de Brabante.
Numa cadeira de espaldar doirado
Escuta os galanteios dos barões.
É noite. E sob o azul morno e calado
Concebem os jasmins e os corações.
Recorda o senhor bispo acções passadas,
Falam damas de jóias e cetins
Tratam barões de festas e caçadas
À moda goda, aos toques de clarins.
Mas a duquesa é triste.
Oculta mágoa Vela seu rosto de um solene véu.
Ao luar, sob os tanques, chora a água.
Cantando, rouxinóis, Lembram o céu.
Dizem as lendas que satã,
Vestido de uma armadura Feita de um brilhante,
Ousou falar do seu amor florido
À senhora duquesa de Brabante.
Dizem que o viram ao luar, nas águas,
Mais loiro do que o sol, marmóreo e lindo,
Tirar duma viola estranhas mágoas,
Pela noite em que os cravos vem abrindo
Dizem mais !
Que na seda das varetas
Do seu leque ducal de mil matizes,
Satã cantara as suas tranças pretas
E os seus olhos mais fundos que raízes.
Mas a duquesa é triste!
Oculta mágoa
Vela seu rosto de um solene véu.
Ao luar, sob os tanques, chora a água.
Cantando, rouxinóis,
Lembram o céu.
O que é certo é que a pálida senhora,
A transcendente dama de Brabante,
Tem um filho horroroso!
E de quem cora o pai, no escuro,
Passeando errante.
É um filho horroroso e jamais visto,
Raquítico, disforme, excepcional.
Todo disforme, excêntrico, malquisto,
Pêlos de fera e uivos de animal.
Parece irmão dos cerdos e dos ursos,
Aborto e horror da brava natureza!
Em vão tentam barões, com mil discursos,
Desenrugar a fronte da duquesa…
Sempre a duquesa é triste!
Oculta mágoa vela seu rosto
De um solene véu.
Ao luar, sob os tanques,
Chora a água.
Cantando, rouxinóis lembram o céu.
Ora o monstro morreu!
Pelas arcadas do palácio
Retinem festas, hinos,
Riem nobres vilões pelas estradas.
O próprio pai se ri, ouvindo os sinos.
Riem vilões trigueiros das charruas,
Riem-se monges pelo claustro antigo,
Riem-se nobres e peões nas ruas
Riem-se padres junto ao seu jazigo
Passeiam velhas damas no terraço,
Nos pátios os truões riem, também.
Passeia o duque, rindo, pelos paços,
Só chora o filho, em alto choro, a mãe.
Só! Sobre o esquife do disforme morto
Chora, sem trégua, a mísera mulher.
Chama os nomes mais ternos ao aborto.
Mesmo assim feio, a triste mãe o quer.
Só ela chora pelo morto.
A mágoa lhe arranca gritos
Que ninguém mais deu!
Ao luar, sob os tanques,
Chora a água.
Cantando, rouxinóis, lembram o céu!
Gomes Leal

06.06.1848 – 29.01.1921
(António Duarte)Gomes Leal nasceu em Lisboa, foi um poeta e crítico literário português.
Filho natural de João António Gomes Leal, funcionário da Alfândega, e de Henriqueta Fernandina Monteiro Alves Cabral Leal, frequentou o Curso Superior de Letras, mas não o concluiu, empregando-se como escrevente de um notário de Lisboa.
Foi um dos fundadores do jornal "O Espectro de Juvenal" (1872) e do jornal "O Século" (1881), tendo colaborado também na Gazeta de Portugual, Revolução de Setembro e Diário de notícias. A sua obra insere-se nas correntes ultra-romântica, parnasiana, simbolista e decadentista.
20 comentários:
Que show de tudo aqui, de poesia, de imagem...Lindo!uma linda noite pra ti,beijos,chica
Muito bem cuidado o seu blog (ou deverei dizer "os seus blogs"?).
Uma outra observação:o fundo da sua foto de apreesentação parece-me Alentejo, não?
O poema do Gomes Leal está muito bem apresentado.
Com as melhores saudações,
João Teixeira
O sentimento de uma mãe não se compadece com a ligeireza dos sentimentos dos outros...
Olá Mariazita
Parabéns por este post e pelo cuidado que tiveste ao fazê-lo. Como dizem os nossos amigos brasileiros "caprichaste"!...
Gomes Leal é um dos nossos grandes poetas/escritores que muito admiro. O poema foi muito bem escolhido.
A voz de João Villaret a declamar este poema, completa na perfeição todo este maravilhoso conjunto.
Beijinhos
Olá Mariazita!
Sempre gostei de João Villaret mesmo quando não era muito dado - e ainda menos entendido - a ouvir poesia, e só ele era capaz de levar-me a gostar de a ouvir.
Lembro-me do programa que tinha na televisão, e de que gostava pela única razão de que gostava de o ouvir a ele.
Este poema é uma forma linda de definir amor de mãe, dito como só ele seria capaz - uma bonita escolha!
Por razões óbvias, o meu poema favorito é o "mostrengo", que é uma outra forma de descrever uma época dourada da nossa história.
E por aqui me quedo, por hoje, e durante mais algum tempo.
Obrigado pela visita.
Beijinhos.
Vitor
Háaaaaaaaaaaaaa Mariazita! Só mesmo você, amiga. Adorei, adorei e adorei! A começar pela imagem gif, a declamação de João Villaret e a leitura deste belo poema de Gomes Leal. Brilhante, minha amiga. Obrigada.
Um beijo estalado de bom.
Tudo está em harmonia, desde ilustração à poesia.
Sempre gostei de ouvir João V.
Um abraço, linda.
Querida Mariazita!
Só a mãe chora com dor profunda a morte de um filho "horrendo"...
Mas haverá alguma mãe que assim não ame seus filhos???
Muito belo e comovente este poema.
Beijinhos
Ná
Minha querida Mariazita
Lindissimo poema, de uma beleza comovente, adorei tudo.
Deixo o meu carinho e um beijinho.
Sonhadora
Oi Mariazita!!!
Ótima apresentação deste poema...
Beijinhos
Ângela Guedes
Mariazita
Apesar de possuir na minha discografia a "Senhora Duquesa de Brabante" (deve ser a mesma versão), ouvi duas vezes. Aprecio muito o pema de Gomes Leal, na voz do que foi grande "diseur"
Como sempre apreciei a nota bibliográfica.
Beijos
Daniel
Acompanhei de verdade a nobre mãe.
*
João Villaret
Esta Noite Choveu Prata,
recordei.
,
parabens
em coloridas conchinhas,
,
*
Que lindo!! Valeu a pena!!
Bj
Querida Amiga Mariazita,
Lindo poema muito bem recitado por Villaret.
Como de costume tudo isto muito bem enquadrado neste seu magnífico Blogue.
Aproveito para lhe agradecer as suas simpáticas palavras e parabéns pelo 1º Aniversário da Tulha.
Um beijinho muito amigo e votos de um bom fds.
Boa noite, querida. Adoro poesia romântica. Amei***** Lindo!!!
Como você
Não deu pra vir antes.
I love you*****
Flores do amor
Poema da Renata
Sai de cena o frio, entra a primavera.
O sol num riso límpido não tardou
a dar vida e colorido à esfera.
A terra é tatuada de luz e cor.
Na planície azul dos corações
uma nuvem branca se derrama
sobre os rubros botões das emoções,
cingindo de brilhos a densa rama.
Pássaros com asas de serenidade
galgam o mais alto da imensidade
e os desejos de amor vão se elevando.
Nos negros olhos da amplidão, subindo,
raios de luz que a terra vai vestindo,
e a flor do amor no peito fecundando.
Beijossss
Rê
Grande homenagem minha doce amiga!
Uma voz inconfundível como um trovão de mansinho.
Beijo
Ficou impecável este poste, tudo em consonância, muito bonito
beijinhos
Mariazita, boa tarde, aqui retorno para ler e ouvir este grande escritor, eu fiquei emocionada com sua grandiosa postagem, que momento elevado poéticamente sua distinta pessoa conseguiu neste evento "A SENHORA DE BRABANTE".
PARABÉNS
Obrigada por sua mensagem graciosa,
aqui de New York
Efigênia Coutinho
Magnífico texto e o amor de mãe é único.
Beijos
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