Permitam-me que dedique esta postagem ao Amigo Vitor Chuva, satisfazendo a sua preferência, expressa no comentário ao meu post “A Senhora Duquesa de Brabante”:
“Por razões óbvias, o meu poema favorito é o "mostrengo", que é uma outra forma de descrever uma época dourada da nossa história.”
“Por razões óbvias, o meu poema favorito é o "mostrengo", que é uma outra forma de descrever uma época dourada da nossa história.”
O Mostrengo
Óleo sobre tela por Carlos Alberto Santos
Ligue o som, e acompanhe o saudoso João Villaret, declamando este belo poema de Fernando Pessoa.
O MOSTRENGO
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
27 comentários:
Minha querida Mariazita
Adoro este poema de Fernando Pessoa declamado por João Villaret.
Muito lindo.
Deixo o meu carinho e um beijinho, para ti amiga querida.
Sonhadora
Não conhecia esse poema de Fernando Pessoa. Senti-me muito agraciada por conhecê-lo. Aproveitei cada segundo. Obrigada pela presença em meu blog.
Um abraço amigo. E vamos confiar no SER!
O poema só por si, já é uma maravilha...dito pelo joão Villaret ganha as dimensões que Portugal no reinado de D.João II tinha por esse mundo fora... Recuperaremos alguma vez a grandiosidade que tivemos um dia??
Parabens pela escolha!
Beijo
Graça
Linda a declamação do poema de Fernando Pessoa, poeta que adoro.
Bjs no coração!
Nilce
Olá, Mariazita!
Obrigado pelo simpático gesto de aqui ter trazido este poema como resultado de eu o ter referido em anterior comentário como sendo o meu favorito, declamado por João Villaret. O ser o meu predilecto tem a ver com o facto de ter servido na Armada ... ainda que nada tenha tido a ver com os feitos aqui relatados, numa altura em que, também, já não havia mostrengos ...
Estou encantado com o gesto; mais uma vez obrigado, e um beijinho amigo.
Vitor
Amiga muito obrigada por se tornar
seguidor do meu intemporal-pippas.
Eu já me tinha registado neste
seu.Irei visitar os outros.
Iremos nos encontrando.
Beijinho/Irene
Olá, adoro poesia, Fernando Pessoa é fantástico!
Gostei muito do seu blog, estarei sempre por aqui, um abraço.
Amiga Mariazita
Toda "A Mensagem" é algo de sublime, aliás como toda a obra de Pessoa.
"O Mostrengo" é um desses poemas belos que nos transporta ao nosso passado glorioso dos Descobrimentos e dos imensos mitos e lendas que geraram.
Depois... na voz e na arte de declamar únicas de João Villaret, tudo ganha uma dimensão e uma força surpreendentes que nos toca bem fundo a Alma Lusa.
Desculpa este longo "testamento" mas os temas dos teus posts "mexem" comigo e identifico-me com eles como se fossem meus...
Beijinhos
Mariazita,
post showwwwwwww! Amei a declamação( ouvi 2x e achei pouco rsrs) deste fabuloso poema épico- lírica de Fernando Pessoa que diz tudo sobre a coragem do povo portugues determinado na sua missão, não importando seus medos. Lindo!!!
Linda e sensível homenagem ao seu amigo.
Beijo estalado de bom!
Só a voz de João Villaret transforma tudo.
(não é menosprezar Fernando Pessoa, é enaltecer quem foi um deus para mim quando era miúdo. Quem ouvia rádio há 50 anos, podendo andar a jogar ao pião ou outra coisa qualquer?)
Conheço muita coisa da obra de Fernando Pessoa, mas esse poema, em especial, eu ainda não conhecia.
Obrigada por compartilhar conosco.
Abreijos da Cid@
Mariazita
O poema é maravilhoso, apenas o conheço por o ouvir recitar por João Vilarett, várias vezes, no célebre disco gravado, no teatro.
Se gostas de anjos convido a visitar o meu blog ENCONTROS LUSO -BRASILEIRO DE POESIA, tem 3 anjos a ilustrar e um poema da poetisa do nordeste do Brasil, agora faz sempre duo comigo. O espaço foi criado apenas para isso, quando a Ma Socorro, me convidou.
Ambos estamos encantados.
Beijos
Seu blog é excepcional, Mariazita. Estou encantado com os presentes que , aqui, oferece aos seus leitores. Voltarei sempre, à partir de hoje.
Abraços!
D. João II era fresco era. bfds
Querida amiga Mariazita!
Belíssimo, sobretudo dito assim, desta forma soberba, pelo saudoso e único, João Villaret!
Beijos
Ná
Amiga,
Obrigada pela visitinha e pelo carinho.
Eu quase não coloco fotos da neta, no blog, pois os papais dela são muito ciumentos...:))
De fato, as que eu ponho, ela está sempre de costas ou de perfil (assim eles deixam).
Se nem assim você nunca viu nenhuma, procure pela última que eu postei.
Foi justamente a um mes atrás (dia 23 de setembro), e ela está com a mãe na foto (minha querida nora).
Clique em cima da foto, pois vai ficar bem maior e mais nítida.
Agradeço a Deus todos os dias, por ela ser uma criança tão saudável, inteligente e feliz.
Deus é Pai!
Beijo grande prá você, e tenha uma excelente semana.
Cid@
Mariazita,
Para mim é uma alegria imensa tê-la em meu blog. Sempre me trazendo palavras que fazem bem ao meu coração!
A alegria fica ainda maior quando vejo o meu soneto publicado em “A Casa da Mariquinhas”, um valor inestimável para os meus singelos versos!
Muito obrigado, minha grande Amiga!
Beijos!...
Olá, querida Mariazita
Vc tem nome de santa, né? Que bom!!!
Inspira a gente...
Conto com sua participação:
venho propor-lhe algo no meu post de hoje...
Conto com sua participação amiga.
Excelente semana,cheia de ricas bênçãos!!!
Abraços fraternos
bela palavra de cores e imagens cheias de graça
Gostei tanto que copiei.
Para ter - não para colocar em blog ou outra coisa que o valha.
És mulher de muito bom gosto.
qualquer poema na declamada pela voz de João Vilaret, é uma delicia
beijinhos
*
e o que viu o herói ?
o que descobriu o valente ?
que o mostrengo era um penedo,
que tinha a forma de gente !!!
,
um mar de luz,
deixo,
,
*
Soube que vai fazer o lançamento do seu livro, daqui a dias. Não vou poder lá estar, mas daqui lhe enviu um abraço e votos de que tenha um enorme sucesso.
Vai lá estar um amigo comum, foi atraves dele que soube, diga-nos onde poderemos comprar o seu livro.beijo e muito exito.
Olá, amiga!
Do livro Mensagem
também este é um dos meu favoritos.
Bjs
Minha Querida Amiga Mariazita,
Se há poema que gosto este é um deles e fico sempre arripiado ao ouvi-lo na voz soberba de João Villaret. Foi um momento muito agradável que agora vivi pela sua mão.
Um bom fim-de-semana e muitos beijinhos amigos.
Um beijo para ti no princípio deste...doce Novembro!
Graça
Há muito que já não passava por aqui, adorei, foi um momento único!
Beijinhos,
Ana Martins
Ave Sem Asas
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