José Régio
Em cima da minha mesa,
Da minha mesa de estudo,
Mesa da minha tristeza
Em que, de noite e de dia,
Rasgo as folhas, leio tudo
Destes livros em que estudo,
E me estudo
(Eu já me estudo)
E me estudo,
A mim,
Também,
Em cima da minha mesa,
Tenho o teu retrato, Mãe!
À cabeceira do leito,
Dentro dum lindo caixilho,
Tenho uma Nossa Senhora
Que venero a toda a hora...
Ai minha Nossa Senhora,
Que se parece contigo,
E que tem, ao peito,
Um filho
(O que é ainda mais estranho)
Que se parece comigo,
Num retratinho,
Que tenho,
De menino pequenino...!
No fundo da minha mala,
Mesmo lá no fundo, a um canto
Não lhes vá tocar alguém,
(Quem as lesse, o que entendia?
Só riria
Do que nos comove a nós...)
Já tenho três maços, Mãe,
Das cartas que tu me escreves
Desde que saí de casa...
Três maços – e nada leves! –
Atados com um retrós...
Se não fora eu ter-te assim,
A toda a hora,
Sempre à beirinha de mim,
(Sei agora
Que isto de a gente ser grande
Não é como se nos pinta...)
Mãe!, já teria morrido,
Ou já teria fugido,
Ou já teria bebido
Algum tinteiro de tinta!
Da minha mesa de estudo,
Mesa da minha tristeza
Em que, de noite e de dia,
Rasgo as folhas, leio tudo
Destes livros em que estudo,
E me estudo
(Eu já me estudo)
E me estudo,
A mim,
Também,
Em cima da minha mesa,
Tenho o teu retrato, Mãe!
À cabeceira do leito,
Dentro dum lindo caixilho,
Tenho uma Nossa Senhora
Que venero a toda a hora...
Ai minha Nossa Senhora,
Que se parece contigo,
E que tem, ao peito,
Um filho
(O que é ainda mais estranho)
Que se parece comigo,
Num retratinho,
Que tenho,
De menino pequenino...!
No fundo da minha mala,
Mesmo lá no fundo, a um canto
Não lhes vá tocar alguém,
(Quem as lesse, o que entendia?
Só riria
Do que nos comove a nós...)
Já tenho três maços, Mãe,
Das cartas que tu me escreves
Desde que saí de casa...
Três maços – e nada leves! –
Atados com um retrós...
Se não fora eu ter-te assim,
A toda a hora,
Sempre à beirinha de mim,
(Sei agora
Que isto de a gente ser grande
Não é como se nos pinta...)
Mãe!, já teria morrido,
Ou já teria fugido,
Ou já teria bebido
Algum tinteiro de tinta!
IN "As Encruzilhadas de Deus"
José Régio
16 comentários:
Belo o poema de José Régio.
Obrigada pelo que me ofereceste e que com muito carinho levo daqui. Muito, muito obrigada, do coração. Muitos beijos.
Querida amiga Mariazita,
uma verdadeira maravilha este poema de José régio!
Muito feliz com as flores, creio que já sabes que adoro Flores!!!!
E é incrivel como me foste oferecer logo orquídeas, porque são as flores que sempre ofereço a meu pai!
Beijinhos,
Ana Martins
São belos todos os poemas em que "Mãe" é o tema e a inspiração.
Todo o afecto pela nossa Mãe é um poema...
José Régio demonstra-o muito bem!
Um beijo
Como sempre tudo muito bonito por aqui.
Só passei para dar um abraço
No entardecer,
o sol dança com a chuva
e um arco-íris
no horizonte tinge...
Espera a lua surgir
e entre as nuvens
uma estrela luzir.
Depois, a terra sorri
quando na noite escura
o céu clareia...
Um véu de estrelas
abraça a lua cheia...
O poeta fecha os olhos
e sente o poema
correr em suas veias.
A lua deita no mar
e o sol, novamente
beija a areia.
(Sirlei L. Passolongo)
É um lindo e comovente poema!
Beijo grande
Belissimo poema.
Obrigada pela visita.
Um gde abraço.
beijooo.
Olá, amiga!
Passei parta ler as novidades
e deixar cumprimentos.
Um poema muito bonito de José Régio...
Construí um abrigo no deserto da emoção
Os vales são as ruas de um Deus
Fecha-se a alegria da terra
Um último olhar de amor, solto dos olhos teus
Na noite tudo se perde
Mora a sombra, o desvario
A indomável vontade do amor
Tem a força de um Rio
Bom fim de semana
Mágico beijo
Olá, belo poema...Espectacular...
Beijos
Mariazita
Magistral este poema de Régio, que seleccionaste para aqui, ou não fosse do meu poeta preferido.
Sou fã da poesia de José Régio, agrada-me a cadência que sempre pôs nos poemas.
Beijinhos
Daniel
Querida Mariazita, que lindo blog esse de poesias! Uma grande e bela ideia. Parabéns por mais esta criativa produção.
Beijos, Teresa
Querida amiga Mariazita,
vim buscar as orquideas, muito obrigada mas assim vou ficar estragada, ultimamente os mimos têm sido muitos!!!!!!!!!!
Beijinhos,
Ana Martins
Um maravilhoso poema que mostra com alma o amor e devoção. Obrigada pela partilha, Mariazita! Bom descanso, amiga! Também eu me ausentarei no carnaval, mas estarei aqui, se possível!
Beijos , com carinho
Mariazita
Todos os poemas são lindos. e autores portugueses fazem-nos de maravilha.
beijocas
Boa noite :)*
Ao ler o nino zé do cão se referir tão emotivo ao poema, não resisti a vir conferir.
lindíssimo! Voltarei a passar por aqui.
Uma maravilhoso poema do grande José Régio, aquele que sempre soube por onde não iria.
Belo post.
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