(Poema Satírico)
E ficou com as mãos pousadas no teclado,
Esquecida, a cismar num mundo de riqueza:
Supunha-se num baile, um conde apaixonado
Segredava-lhe: «Adoro-a!… Eu mato-me, marquesa!…»
Ah! se fosse fidalga!… Ao menos baronesa…
Que baile! que esplendor na noite de noivado!…
Estremeceu, nervosa, achou-se na pobreza,
E o piano soltou um grito arrepiado.
Absorvida outra vez, prendeu-se-lhe o sentido
À mesma ideia – o luxo. Ia comprar cautelas…
E imaginou de novo o conde enfurecido…
Um palácio, um coupé, esplêndidos cavalos…
Nisto o marido entrou, de óculos e chinelas,
E miou com ternura: — «Anda aparar-me os calos».
Garcia Monteiro - Poeta do Séc. XIX
1859 - 1913
E ficou com as mãos pousadas no teclado,
Esquecida, a cismar num mundo de riqueza:
Supunha-se num baile, um conde apaixonado
Segredava-lhe: «Adoro-a!… Eu mato-me, marquesa!…»
Ah! se fosse fidalga!… Ao menos baronesa…
Que baile! que esplendor na noite de noivado!…
Estremeceu, nervosa, achou-se na pobreza,
E o piano soltou um grito arrepiado.
Absorvida outra vez, prendeu-se-lhe o sentido
À mesma ideia – o luxo. Ia comprar cautelas…
E imaginou de novo o conde enfurecido…
Um palácio, um coupé, esplêndidos cavalos…
Nisto o marido entrou, de óculos e chinelas,
E miou com ternura: — «Anda aparar-me os calos».
Garcia Monteiro - Poeta do Séc. XIX
1859 - 1913

Manuel Garcia Monteiro (1859-1913) nasceu na cidade da Horta, ilha do Faial, Açores.
Devido a dificuldades económicas, parte para Lisboa arranjando um lugar como prefeito num colégio e estudando na Escola Politécnica. Por questões de saúde, vê-se obrigado a regressar aos Açores.
Em 1883 funda o jornal O Açoriano, dedicando-se inteiramente ao jornalismo. Nove meses depois, parte para os Estados Unidos da América a tentar a sorte.
Fixa-se em Boston, trabalhando como tipógrafo e continuando os estudos. Forma-se em Medicina, que exerce nos E.U.A., e colabora em várias publicações nacionais e estrangeiras.
Suas obras:
- Versos - 1894
- Rimas de Ironia Alegre - 1896